Leia o extrato de uma carta de Ozanam escrito no dia de seu aniversário:
Extrato do Testamento de Antônio Frederico Ozanam.
Em
nome do Pai, Filho e do Espírito Santo. Assim seja.
No
dia de hoje, vinte e três de abril de mil oitocentos e cinqüenta e três, no
momento em que completo meu quadragésimo aniversario, preso das inquietações de
grave moléstia, sofredor no corpo, mas são de espírito, escrevi em poucas
palavras minhas ultimas vontades, propondo-me exprimi-las mais amplamente
quando tiver mais força.
Entrego
minha alma a Cristo, meu Salvador. Aterrado pelos meus pecados, mas confiante
na misericórdia infinita, morro no seio da Igreja Católica, Apostólica, Romana.
Conheci as duvidas do século presente. Toda a minha vida, porém, levou-me à
convicção de que não existe repouso para o espírito e o coração a não ser na fé
da Igreja e na sujeição a sua autoridade. Se algum valor empresto a meus longos
estudos é porque me outorgam o direito de suplicar a todos aqueles que eu amo
que se conservem fiéis a uma religião na qual encontrei a luz e paz.
Minha
prece suprema a minha família, a minha esposa, a minha filha, a meu irmão e
cunhados e a todos que deles nasceram, é que perseverem na fé, não obstante as
humilhações, os escândalos e as deserções que serão testemunhas.
À
minha terna esposa, que constituiu a alegria e o encanto de minha vida, e cujos
meigos cuidados, durante um ano, amenizaram todos os meus males, dirijo um
adeus, breve como todas as coisas da terra.
A ela
minha gratidão e minha benção. Somente no céu, onde a espero, poderei
render-lhe todo o amor que merece. À minha filha lanço a benção dos Patriarcas,
em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo. É bem triste para mim não poder
consagrar-me por mais tempo à obra de sua educação. Confio-a, porem, sem
amargor à sua virtuosa e querida mãe.
A
meus irmãos, Afonso e Carlos, toda a minha gratidão pelo afeto que me
consagraram. A meu irmão Carlos, de modo especial, por todas as preocupações
que lhe causou minha saúde. À minha mãe, Senhora Soulacroix e a Carlos Soulacroix,
até nosso encontro junto àqueles que unidos pranteamos.
Uno
em um só pensamento todos os meus parentes e amigos que aqui deixo de nomear.
Desejo, contudo, que meu tio Haraneder, meus primos Jaillard, a Noirot e
Ampére, a quem tanto devo, e Henri Pessonneaux, Lallier e Dufieux, meus mais
velhos amigos, aqui encontrem uma lembrança.
Agradeço
ainda uma vez a todos que me prestaram serviços. Peço perdão das minhas
vivacidades e dos meus maus exemplos. Solicito as preces de todos os meus, da
Sociedade de São Vicente de Paulo, dos meus amigos de Lião. Não vos deixeis
amortecer por aqueles que vos disserem: “Ele está no céu”. Orai sempre por
aquele que tanto vos ama, mas que muito pecou. Apoiado em vossas preces, meus
caros e bons amigos, deixarei a Terra com menos temor.
Espero
firmemente que não nos separemos e que ficarei convosco até virdes a mim.
Que
sobre vós todos permaneça a benção do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Assim
seja!
Pisa 23 de abril de 1853.
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